domingo, 1 de setembro de 2013

Gramado x Conservação de energia



GRAMADO x CONSERVAÇÃO DE ENERGIA x SUCESSÃO NATURAL
Fernando Soares

Esta é a estratégia da vida. O fenômeno consiste em criar o máximo de diversidade
e assim o máximo de alternativas de trocas e armazenamentos de energia propiciando 
como que a coisa toda, o ecossistema, seja mesmo auto-regulável, isto é permita que 
erros e acertos aconteçam no processo evolutivo a fim de que a vida possa se adaptar as novas circunstâncias perpetuando-se a si mesmo. Por isso, quanto maior a diversidade, maior a capacidade de auto-regulação e por isso maior a estabilidade do ecossistema.
Se estivéssemos acostumados a enxergar os seres vivos como uma unidade chamada
vida, entenderíamos que a perpetuação desta é prioritária sobre a perpetuação das espécies. Ao menos assim este fenômeno tem se manifestado ao longo de sua existência.

NA PRÁTICA
Um exemplo típico está na maioria dos nossos jardins. Se você cobre seu jardim
com um gramado limpinho como se fosse um carpete aspirado, por exemplo, você está
diminuindo as alternativas de troca e armazenamento de energia que tanto favorecem a
manutenção da vida. Além de impedir a diversidade, estará consumindo energia ao aparar
este gramado, varrer as folhas, tirar o inço e trazer terra boa ou esterco de outro lugar
porque a grama já não agüenta mais – energia esta que poderia ser economizada em
alimento ou consumida no balanço de uma rede, observando o que está acontecendo no
jardim, brincando com as crianças ou lendo um bom livro sobre permacultura. Mas todos
nós gostamos de gramados. 
Nossa veia réptil nos convida para se sentar ao sol e lagartear, talvez nossa veia primata nos convida para uma “brincadeira na clareira”, uma algazarra, um jogo de futebol, por exemplo. Para isso, existem formas de se manter um gramado diversificado onde boa parte da manutenção seja feita por animais que adoram comê-lo e fertiliza-lo (com o uso de coelhos e ovelhas, por exemplo) Além disso, pode-se criar ilhas de diversidade; pequenas áreas em que nunca passamos o aparador de grama, ou os coelhos. Vi isso na casa de um amigo que ainda colocava pequenas pilhas de pedras ao lado destas ilhas, criando a impressão de um jardim japonês, sem toda aquela demanda por manutenção quase constante destes jardins. Estas ilhas permitem a sucessão natural e assim aos poucos nos mostram o que a vida “quer” naquele pedaço do mundo.

O que para nós neste momento pode ser útil, é reconhecer que quando uma semente de inço cai sobre o nosso gramado e germina, estará desencadeando um processo natural de sucessão (cada evento, segundo a teoria do caos, funciona da mesma forma). 
Podemos acompanhar este processo, observa-lo e nos integrar ao mesmo permitindo o crescimento daquela planta para ver onde ela se insere no sistema permacultural ou bani-lo, bloqueá-lo, desencadeando outro rumo na sucessão dos eventos. Ao permitirmos ilhas de diversidade de “inços” em nosso gramado,dependendo do tamanho desta ilha, o solo se modificará(graças aos famigerados inços) permitindo com que novas plantas se estabeleçam para preparar o terreno para as próximas espécies. Em larga escala, um terreno abandonado, dependendo de sue tamanho, seu estado de conservação e de sua localização (por exemplo, 20 mil m² em Curitiba sem edificações) se intocado por tempo suficiente, poderá vir a se tornar um fragmento de mata atlântica, ainda que deficiente dada a proximidade com a cidade. Em tempo hábil, para que a sucessão ocorra, para que a chegada e saída das espécies necessárias à evolução do ecossistema flua sem bloqueios, este fragmento de mata poderá chegar ao seu clímax naquele local, isto é, ao máximo de vida, produtividade e diversidade onde os únicos limites passam a ser de ordem superior como fenômenos geológicos, ou fatores principalmente climáticos.

Em permacultura, procuramos projetar para frente, procuramos nos inserir na sucessão natural, procuramos facilitá-la em áreas degradadas que necessitam de recuperação.
No nosso gramado, há muito que se descobrir sobre a utilidade das plantas que lá se estabelecem, dos animais que vem a procura de suas flores e dos animais que vem a procura destes animais. Bani-los do sistema é andas para traz. 
Então criamos espaço para a diversidade, criamos condições para descobrir de que forma podemos ter um gramado que não tome tanta energia em sua manutenção e além de nos propiciar um lugar ao sol para se sentar; possa também nos dar conhecimento e tempo para brincar com as crianças e ensinar nossas descobertas.

Fonte : SOARES, Fernando. E o que você tem a ver com isso? Permacultura Brasil –
Soluções Ecológicas.n.5

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